sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O Último Post

Como deveria ser o último post do ano? Passei o dia todo pensando nisso. Pensei em fazer uma retrospectiva, mas não quero re-lembrar os acontecimentos de um ano tão horrível como 2010 foi. Pensei em escrever sobre o caso Cesare Battisti, mas não quero terminar o ano escrevendo sobre política. Pensei em escrever sobre futebol, mas esse não tem sido um tema agradável para os palmeirenses. 
O último post. O poeta quereria que seu último poema fose puro, ardente e terno. O cronista queria sua última crônica pura como o sorriso de um pai realizando o sonho da filha. Como deveria ser o último post de um blogueiro? 
Para responder isso, temos que pensar em algumas coisas. Qual é o objetivo de um blogueiro? Ou melhor, qual é o objetivo DESTE blogueiro? Por que este blog existe? Qual é o sentido da atividade de "bloguear"? Por que eu escrevo?
Será que é possível responder essas perguntas? Eu escrevo porque este é o sentido da minha vida. Eu nasci pra escrever. Não consigo mais imaginar minha vida sem escrever. Mas por que eu escolhi o blog para realizar isso? Poderia tentar escrever num jornal, ou tentar escrever um livro. Por que um blog?
Não sei. Mas eu sinto como se tivesse recebido uma missão. É assim que vejo este blog. O blog serve pra eu escrever minhas ideias loucas, minhas histórias, meus sentimentos, minhas opiniões. O blog é como um espelho do meu cérebro: frenético, hiperativo, bagunçado.
Então, é assim que eu quereria meu último post: com um ritmo acelerado, frenético; com a marca das minhas opiniões; que a pessoa lesse e, sem ninguém contar-lhe, que ela soubesse que é um texto meu. Assim eu quereria meu último post: meu.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Amor à Platão

  Tinha um olhar lindo. Seus olhos transmitiam pureza. Quando a vi, não conseguia parar de pensar em seu olhar. Aquilo ficou na minha cabeça por dias. Fazia de tudo para encontrá-la, mas parecia que o destino não queria isso. Procurei por ela na cidade toda. Andava e andava procurando-a.
  Não conseguia parar de pensar naquele olhar. Passava horas seguidas lembrando, maravilhado com a beleza daqueles lindos e serenos olhos. Como aquele olhar me transmitia tranquilidade. Como ela era linda. Será que encontraria palavras em nossa língua para descrever aquele olhar? Seriam olhos de ressaca como os machadianos olhos de Capitu? Não. Aquele olhar me transmitia certeza, não a dúvida. O mais interessante é que não consigo me lembrar da cor dos olhos dela. Apenas lembro a serenidade que eles me passavam.
  Lembro-me, também, da voz dela. Soava como a mais doce melodia já executada por mãos humanas. Suas palavras eram doces. Aliás, se existe uma palavra para descrevê-la é doçura. Como ela era doce. Não conseguia tirá-la de minha mente. Tudo me lembrava ela. Ela era linda. Precisava encontrá-la.
  A cada instante que passava, tudo piorava. A visão de seu rosto vinha de encontro ao meu pensamento sempre. Para mim, ela era a mais bela criatura de todo o mundo. Lembrava de seu perfume. Lembrava de sua voz, de seu olhar. Parecia que tudo o que havia nela era perfeito. Vê-la era uma necessidade.
   A insanidade começava a tomar conta de mim. Tudo era ela. As nuvens no céu, a música que eu ouvia, as pessoas que via na rua. O meu mundo era feito daquele olhar tão sereno. No meu coração, ela era perfeita. Estava apaixonado. Não. Mais do que isso. Estava obcecado. Precisava dela.
  Tinha visto aquela perfeição apenas umas poucas vezes. Mas precisava vê-la. Não era necessário beijá-la, ou mesmo tocá-la. A simples visão de sua face me satisfaria. Mais uma vez, saí na vã esperança de encontrá-la. Vagava sem destino, torcendo para que ela estivesse ali quando eu cruzasse a esquina. 
  Tinha perdido a esperança. Então, cruzei a esquina. Meu coração quase saiu pela boca. Era ela. A mais perfeita visão que um ser humano já teve. Estava linda. Era linda. Cumprimentei-a com um abraço e segui meu caminho, satisfeito, por vê-la. Era o que eu precisava.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Uma Análise Sobre os Reis Magos

Dos elementos presentes no nascimento de Jesus, o que mais me intriga são os Reis Magos. Tradicionalmente, considera-se que eram em número de três. Entretanto, a Bíblia não diz, em nenhum momento, quantos Reis estavam ali. Consideremos outros aspectos.

-> É convenção colocarem, entre os Magos, um negro, é politicamente correto. Entretanto, a Bíblia diz que os Reis Magos vieram do Oriente. Considerando a posição geográfica de Belém, é impossível que algum dos sábios ali presente tenha vindo da África. Ou seja, provavelmente, não havia um Rei Mago negro naquela ocasião.

-> Em momento algum a Bíblia relata o número de sábios que foram ao encontro do recém-nascido salvador da   Terra. Então, por que convencionou-se o número três para contá-los? Porque eles levaram três presentes ao menino. A saber, esses presentes são ouro, incenso e mirra.
- Ouro, para o Rei da Terra.
- Incenso, para o Sacerdote que nos levaria à presença de Deus.
- E mirra, uma especiaria rara, para o Cordeiro que seria imolado por nossos pecados.

-> Segundo as informações que a Bíblia nos passa, chegamos à conclusão de que os sábios não chegaram a Jesus no momento de seu nascimento. Se eles passaram por Herodes antes de chegar ao destino, e, na volta, não passaram e Herodes mandou com que fossem mortas as crianças com dois anos de idade, ou menos, podemos afirmar, não com precisão, que eles chegaram e viram um Jesus com pouco menos de um ano de idade, e não recém-nascido, como normalmente é representado.

Levando em conta essas considerações, gostaria de fornecer um novo retrato para a cena dos Reis Magos: (parte disso é apenas fruto da minha imaginação)

-> 4 Reis Magos: um ariano (persa), um indiano (por causa da mirra; a Índia sempre foi rica em especiarias), um oriental do Leste (talvez um chinês) e um árabe.

-> Uma casa, em Belém: se Jesus já tinha um ano de idade quando os sábios chegaram, eles provavelmente não o encontraram no estábulo que presenciou o Nascimento. É provável que a Sagrada Família já estivesse morando em outra casa

-> José

-> Maria, já refeita do parto, amamentando o Salvador.

-> Jesus com cerca de um ano de idade

-> 0 pastores: os pastores citados pela Bíblia viram Jesus recém-nascido. Se os Reis Magos chegaram a Belém quando Jesus já tinha cerca de um ano, provavelmente os pastores já teriam ido embora.

Os Reis Magos sabiam quem Jesus era. Eles provavelmente se jogaram de joelhos à sua frente, com o rosto em Terra, adorando o Salvador.
Eu imagino uma Maria atônita com a presença, os presentes e as atitudes dos Reis Magos. Imagino um choque entre as culturas dos estrangeiros e de José. E imagino os olhos dos sábios brilhando ao contemplarem o Rei de todo o Universo.
Essa é a minha visão da chegada dos Reis Magos à presença de Jesus.

(se você tiver outra ideia, poste como comentário)

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Sonhos

Quando Martin Luther King pronunciou a célebre frase “eu tenho um sonho”, talvez ele se referisse apenas aos problemas raciais. Mas todos percebem que a frase pode se aplicar às mais diversas áreas.
   Se referindo à igualdade, Luther King estaria, automaticamente, se referindo à miséria que a desigualdade traz. E Martin disse que sonhava com um mundo de igualdade, sem miséria.
    Agora, pode surgir a pergunta: seria possível um mundo com igualdade e sem miséria, ou esta hipótese estaria, apenas, no sonho do pastor americano?
    A resposta é a frase de Machado de Assis, de que “defeitos não fazem mal se há vontade e poder para corrigi-los”. Se a miséria é um defeito, então, com vontade, há como mudar esse quadro.
    Se o sonho é realmente real, podemos ter um mundo melhor e mais justo, com igualdade e sem miséria, exatamente como sonharam Martin Luther King, Mahatma Gandhi, Jesus de Nazaré e tantos outros incontáveis e anônimos sonhadores que a História não nos revelou a identidade.
    Mas, quem pode mudar esse quadro? E quando esse quadro será mudado? O mundo apenas será um lugar melhor, sem desigualdade e sem miséria quando cada um de nós fizer a nossa parte, com consciência e força de vontade para mudar esse quadro.
    Enquanto isso, estaremos fadados a viver em um mundo desigual, injusto e miserável, apenas com um sonho que um pastor negro dos Estados Unidos nos deixou como herança quando um fanático da Ku-klux-klan tirou sua vida com um tiro. Enquanto não mudarmos as estruturas, estaremos destinados a repetir a frase de Luther King, sem expectativa de um mundo melhor. Durma, sonhe, e acorde. Talvez, quando acordar, esteja melhor.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Natal

E o Natal bate às portas...

Presentes?

Papai-Noel?

Jesus?

Comércio?

Dinheiro?

Decoração?

Árvore?

Lutero?

Maria?

José?

Festa pagã?

Mundano?

Amor?

Paz?

Alegria?

Manjedoura?

(Três?) Reis Magos?

Júpiter?

Constantino?

Deus?

Messias?

Salvador?

Afinal de contas, qual é o sentido do Natal?

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Três Desejos

  Uma vez me perguntaram o que eu desejaria se encontrasse uma lâmpada mágica e tivesse direito a três desejos. Não soube o que responder e pedi um tempo pra pensar. Hoje eu descobri o que pediria, e cheguei à conclusão de que isso mereceria um texto. Lá vão os três desejos.
  Em primeiro lugar, pediria que o sofrimento de todas as pessoas do mundo acabasse. Nenhum ser humano merece sofrer. Eu gostaria que toda fome do mundo acabasse. Gostaria que o ódio se extinguisse. Gostaria que não houvesse mais assassinatos e torturas. 
  Em segundo lugar, pediria que todas as pessoas se amassem. Mas que elas se amassem completamente. Que todas as pessoas estivessem dispostas a dar a vida pelas outras. Um amor completo e sem fronteiras. O amor cristão, sacrificial e perfeito.
  Em terceiro lugar, pediria que eu simplesmente desaparecesse. 

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Countdown

Hide, for the countdown has begun (Narnia)

São 04h00 do dia 14 de dezembro de 2010...
O tédio e a solidão me consomem...
Sinto um vazio dentro de mim...
Como preenchê-lo?
Sinto algo que não sei explicar...
Como pode ser?
Tento entender a mim mesmo.
Por que parece tão difícil?
Se nem eu mesmo me entendo,
Como os outros poderiam?

A solidão me atormenta.
Quase sempre cercado de pessoas.
Sempre sem ninguém ao meu lado.
Sinto falta de alguma coisa.
De quê? Não sei.
Sei que preciso de alguém.
Uma namorada?
Um amigo?
Talvez.

Pensamentos começam a bombardear meu cérebro.
O que é este texto?
Uma poesia?
Não quero pensar nisso.
Cada pensamento me atormenta mais.
Não quero mais pensar.
Pensar faz mal...
Meu cérebro não para...

Cada atitude me incomoda.
O Tédio zomba de mim.
Como evitar?
Sinto uma avalanche de sentimentos
Desabando sobre meu coração...
Pior do que pensar é sentir...
Preciso parar com esses vícios.

Sozinho no quarto,
Ideias me atormentam.
Vejo uma arma.
Ideias me atormentam.
Penso em atitudes controversas.
A polêmica parece fazer parte do momento.

O suicídio parece uma boa alternativa.
Rejeito instantaneamente a possibilidade.
O auto-assassinato é um ato egoísta.
Penso nos outros.
Guardo a arma.

Penso na vida.
Vida? Que vida?
Isso é vida?
Pego novamente a arma.

O suicídio novamente
Parece uma boa alternativa.
Reluto em fazê-lo.

Penso mais um instante.
Engatilho. Atiro.

Morro.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A Flor e a Náusea


Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cizenta.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a  pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que triste são as coisas, consideradas em ênfase.

Vomitar este tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam pra casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens macias avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
Carlos Drummond de Andrade

sábado, 4 de dezembro de 2010

Senhor de Tudo

Eu não sei
O que seria de mim
Se não fosse o teu amor
Eu não vou
Posar de bom
Tudo o que tem de bom em mim
É a tua porção em mim

Senhor, Senhor,
Senhor da minha vida,
Dos meus planos,
De tudo.

Posso te ver
Num céu com sol
Ou em nuvens que vêm com chuva
Posso te sentir
Em plantas e pássaros,
Em todas as coisas
Teu amor

Senhor, Senhor,
Senhor da minha vida,
Do meu mundo,
De tudo.

Das asas da borboleta
Aos icebergs glaciais,
Das quedas de cometas
Aos seres celestiais,
A glória é tua,
É teu o reino da paz

Danni Distler

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Psicologia de Um Vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra.

(Augusto dos Anjos)

Acho que encontrei algo que define bem o momento que estou vivendo...
Obrigado, Augusto dos Anjos...

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Metalinguagem

  Sou um apaixonado pelas letras. Poucas coisas podem ter sua beleza comparada à da produção de palavras; as palavras são fascinantes, as frases são espetaculares, os versos são incríveis. Nada me satisfaz mais do que o ato de escrever. Amo a Prosa; amo a Poesia.
  Meu amor pela Prosa é consumado; eu procrio com a Prosa, tenho filhos com ela. Todos os dias eu anseio pela Prosa, busco sua presença mais do que tudo. A Prosa me completa; meu corpo e minha razão são completamente possuídos pela mãe dos meus filhos, que também possui grande parte do meu coração.
  Grande parte, porque existe uma outra: a  Poesia. Se minha relação com a Prosa é carnal, com a Poesia é platônica: sempre admirarei sua beleza, sempre flertarei com ela, sempre amá-la-ei. Porém, nunca poderei tê-la. A Poesia não é para mim.
  A Poesia sempre me atraiu e sempre vai me atrair com sorrisos de Diniz, com histórias de Camões, com declarações de Gonzaga, com suspiros de Dias, com protestos de Alves, com lágrimas de Azevedo, com deboches de Bandeira e com gritos de Pessoa. Mas isso não é e nunca será suficiente pra mim.
  Sempre precisarei das risadas de Machado, das constatações de Manning, das estórias de Lewis, da sensibilidade de Braga, da revolta de Yancey, dos cálculos de Malba, da fantasia de Tolkien e das palavras do Rosa. Mas seria isso suficiente pra saciar minha sede?
  Você poderia me sugerir que eu ficasse com ambas, que eu fosse uma espécie de '"Seu Flor" com duas esposas. Impossível. Não sou bígamo, como Vinícius e Drummond. Tenho uma essência monogâmica; sou fiel a uma só mulher nas Letras e na vida. Tenho que escolher uma.
  Eu sinto a Poesia; sinto seu ritmo, suas rimas, seus truques. Mas a Poesia é traiçoeira: nunca se sabe quando        ela vai insistir em não aparecer. Apesar de bela, é infiel; uma Capitu aos olhos do velho Bentinho. Já a Prosa não tem a mesma fineza da Poesia, mas é bela, mesmo assim. E a Prosa sempre está junto do amado, não tem truques, é a companheira perfeita.
  Por isso, estou disposto a embarcar em uma aventura para a vida toda: Prosa, você aceita se casar comigo?

sábado, 30 de outubro de 2010

Eleições 2010

Tenho evitado, há um bom tempo, updates falando sobre política neste blog; no segundo turno, este assunto se tornou enfadonho e irritante. Porém, agora a dois dias da eleição e depois do último debate, faz-se necessário um comentário. Para quem espera imparcialidade, vou tentar, mas não prometo.

Essas eleições foram pautadas por debates religiosos até certo ponto irresponsáveis. Falar sobre o aborto da forma como foi falado nessa eleição é muita leviandade. O aborto não pode ser visto como um crime, pura e simplesmente; deve ser tratado como um problema de saúde pública. Como foi tratado no governo FHC, quando José Serra era ministro da Saúde e regulamentou o aborto (regulamentar é diferente de regularizar; o aborto e a união de homossexuais devem, na opinião deste blog, ser regulamentados, não regularizados; regulamentar é estabelecer regulamentos, enquanto regularizar é liberar).

Outra questão importante desta eleição é o tema "privatização". Na opinião deste blog, o Estado deve ser responsável, apenas, por oferecer saúde (e, nisso, inclui-se saneamento básico), segurança e educação; o que passa disso é planificação de economia. E, se for pra planificar, planifique de uma vez; melhor do que ficar pagando de economia capitalista pro mundo. E quem disse que as privatizações foram ruins para o Brasil? O PT? Não. Durante o segundo mandato de Lula, em 2007, Ivan Valente propôs a re-estatização da Vale; o PT foi veementemente contra (podem ver neste link: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/o-que-o-pt-esconde-o-pt-fez-a-mais-entusiasmada-defesa-da-privatizacao-da-vale-e-provou-o-bem-que-a-decisao-dos-tucanos-fez-ao-pais/). Se até o PT diz que as privatizações foram boas para o Brasil, porque temos a impressão de que o PSDB se envergonha delas?

Outro ponto primordial desta (?) eleição é a corrupção. Neste ponto, apenas citarei nomes e fatos: José Dirceu, Erenice Guerra, Paulo Souza, Amaury Ribeiro Jr, Fernando Collor de Mello, Verônica Serra, quebra de sigilo, tráfico de influência, Aécio Neves, guerra interna, licitação do metrô, Rodoanel, Mensalão, Aloprados, Sanguessuga.

Nesta eleição, também foi dada muita atenção à Democracia. Existiu um temor entre certos setores da sociedade de que a candidata petista daria sequência a um plano de transformar o Brasil em uma ditadura populista de esquerda. Prefiro não comentar isso. Gostaria de comentar as agressões que a Democracia brasileira sofreu durante a campanha eleitoral. O STF considerou CENSURA o veto aos arquivos da candidata petista durante a ditadura; onde há censura, não há Democracia. A agressão sofrida por José Serra no Rio de Janeiro obviamente não é uma atitude de quem presa pelos valores democráticos; não importa se foi bolinha de papel, rolo de fita crepe ou um tijolo. Não se pode ADMITIR que isso ocorra em uma Democracia. Como disse que tentaria ser imparcial, citarei também o episódio do balão d'água que foi atirado em Dilma (apesar de achar estranho a assessora dela estar com um guarda-chuva, do PT, aberto ao lado da candidata, sendo que não havia tempo de chuva). Outra agressão à Democracia foi o comportamento do Presidente da República durante a campanha; como cidadão, ele tem o direito de escolher o (a) candidato (a) que ele quiser e fazer campanha pra ele. Mas não pode cancelar compromissos oficiais para fazer essa campanha; e, muito menos, fazer campanha e ofender o candidato de oposição em um compromisso de agenda oficial. Isso não é papel de um chefe de Estado democrata.

Nos debates, José Serra se mostrou, na maioria das vezes, melhor preparado do que Dilma (principalmente no debate da Rede Globo). Isso é extremamente natural. Ele tem mais tempo na política e já concorreu várias vezes a cargos no executivo, enquanto Dilma nunca concorreu em eleições. Serra fala melhor e tem melhor domínio da Língua Portuguesa. Dilma, não se sabe se por recomendação dos marqueteiros e de Lula, “esquecia-se” de plurais e afins. Abusava de algumas palavras em determinados momentos, e todos sabemos que não devemos repetir muito uma determinada palavra. Dilma não se mostrou bem preparada para o debate. Isso conota uma certa arrogância, mas não quero pensar que é isso.

Algumas pesquisas foram extremamente contestadas pelo candidato do PSDB. Ele e seu partido disseram haver uma “crise de metodologia” nos institutos de pesquisa. Como eles erraram FEIO no primeiro turno, não sei se discordo muito deles; mas, na maioria das vezes, essa reclamação parece choro de perdedor.

Agora, falemos sobre propostas. Eu confesso que não enxerguei muitas propostas de Dilma desde o começo da campanha eleitoral. Ela fala apenas de “continuar e ampliar”, mas não diz como fará isso. A maioria das propostas que enxerguei foram copiadas do plano de governo tucano: “Rede Cegonha” (Mãe Brasileira, para os tucanos), corte do PIS/COFINS (que figura no plano tucano desde o começo da campanha) e criação de policlínicas (implantadas por Serra em SP e figurando em seu plano, também). Outras propostas, como a criação de seis mil creches, são de execução extremamente complicada e não dependem apenas do Governo Federal. Sobre as propostas de Serra, existem as já citadas neste parágrafo, além de outras que merecem citação: a criação de vários AMEs, a instituição de dois professores na primeira série do Ensino Fundamental, a criação do Centro de Reabilitação Zilda Arns (parente do já existente em terras paulistas CR Lucy Montoro), e propostas que este blog considera de difícil execução, como o aumento do salário mínimo para R$600,00, o aumento de 10% para todos os aposentados e o décimo-terceiro do Bolsa Família; essas propostas de difícil execução podem acabar quebrando a Previdência Social.

Quanto ao passado dos candidatos, ambos têm belas histórias de luta contra o regime militar. Serra foi exilado no Chile e, perseguido também pela ditadura chilena de Pinochet, nos EUA; Dilma preferiu a ilegalidade e foi guerrilheira no Brasil, sendo presa e torturada. Este blog acha (grifem: ACHA, não tem provas) que Dilma era uma burocrata do grupo; ou seja, não tomou parte nos crimes que dizem terem sido cometidos por ela. Uma coisa que o autor deste texto acha estranha é a vergonha que Dilma parece ter da luta armada. Ela não gosta de se referir a esse passado, enquanto outras personalidades como Fernando Gabeira, Aloysio Nunes, José Dirceu e José Genoíno têm orgulho de dizer que participaram dessa luta de guerrilhas contra o Regime Militar. Por isso acho que ela não tomou parte na luta armada. Serra tem uma biografia política invejável: secretário de Planejamento no governo Montoro em São Paulo, deputado constituinte, deputado federal, senador, ministro do Planejamento de FHC, ministro da Saúde de FHC, prefeito da maior cidade da América Latina e governador do estado mais importante do Brasil. Dilma também tem uma bela biografia política, mas seus cargos foram mais de bastidores: secretária de Finanças da prefeitura de Porto Alegre, secretária de Minas e Energia do governo sul-riograndense, ministra de Minas e Energia de Lula e minstra-chefe da Casa Civil de Lula. Não farei aqui a propaganda absurda de que ela não tem experiência política para governar o Brasil, porque FHC nunca tinha ocupado um cargo no Executivo quando foi eleito Presidente; Lula, também não. Logo, experiência não é tudo.

Creio ter falado tudo. Tentei ser o mais imparcial possível até aqui. Os que buscam imparcialidade devem parar de ler aqui.

Para terminar, este blog recomenda o voto em José Serra.        

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O politicamente correto em ritmo de barbárie: Monteiro Lobato na mira dos “censores do bem” do Ministério da Educação


Experimentei, confesso, certo mal-estar ao ler uma reportagem de Angela Pinho e Johanna Nublat, na Folha de hoje. Leiam. Volto em seguida:
*
Monteiro Lobato (1882-1948), um dos maiores autores de literatura infantil, está na
mira do CNE (Conselho Nacional de Educação). Um parecer do colegiado publicado no “Diário Oficial da União” sugere que o livro “Caçadas de Pedrinho” não seja distribuído a escolas públicas, ou que isso seja feito com um alerta, sob a alegação de que é racista. Para entrar em vigor, o parecer precisa ser homologado pelo ministro da Educação, Fernando Haddad. O texto será analisado pelo ministro e pela Secretaria de Educação Básica.
O livro já foi distribuído pelo próprio MEC a colégios de ensino fundamental pelo PNBE (Programa Nacional de Biblioteca na Escola). Em nota técnica citada pelo CNE, a Secretaria de Alfabetização e Diversidade do MEC diz que a obra só deve ser usada “quando o professor tiver a compreensão dos processos históricos que geram o racismo no Brasil”. Publicado em 1933, “Caçadas de Pedrinho” relata uma aventura da turma do Sítio do Picapau Amarelo na procura de uma onça-pintada.
Conforme o parecer do CNE, o racismo estaria na abordagem da personagem Tia Nastácia e de animais como o urubu e o macaco. “Estes fazem menção revestida de estereotipia ao negro e ao universo africano”, diz a conselheira que redigiu o documento, Nilma Lino Gomes, professora da UFMG. Entre os trechos que justificariam a conclusão, o texto cita alguns em que Tia Nastácia é chamada de “negra”. Outra diz: “Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou, que nem uma macaca de carvão”.
Em relação aos animais, um exemplo mencionado é: “Não é à toa que os macacos se parecem tanto com os homens. Só dizem bobagens”. Por isso, Nilma sugere ao governo duas opções: 1) não selecionar para o PNBE obras que descumpram o preceito de “ausência de preconceitos e estereótipos”; 2) caso a obra seja adotada, tenha nota “sobre os estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos raciais na literatura”.
À Folha Nilma disse que a obra pode afetar a educação das crianças. “Se temos outras que podemos indicar, por que não indicá-las?” Seu parecer, aprovado por unanimidade pela Câmara de Educação Básica do CNE, foi feito a partir de denúncia da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, ligada à Presidência, que a recebeu de Antonio Gomes da Costa Neto, mestrando da UnB.
Comento
Antonio Gomes da Costa Neto, o tal mestrando da UnB que, Deus do céu!, denunciou Monteiro Lobato, afirma em entrevista à Folha que ele não quer, não, censurar o autor. É que, segundo ele, “Os professores, no dia a dia, não têm o preparo teórico para trabalhar com esse tipo de livro. Então, não é que ele deva ser proibido. O que não é recomendado é a sua utilização dentro de escola pública ou privada.
Ah, bom! É o mesmo argumento que se empregava na República Velha para tirar de milhões de brasileiros o direito de votar: eles seriam muito ignorantes para  isso e fariam besteira. É o argumento que a censura empregava durante as ditaduras havidas no Brasil, seja a de Getúlio, seja a militar: falta capacidade às pessoas para discernir o bem do mal, e a exposição a material potencialmente nefasto lhes causará prejuízos. A esquerda adere aos argumentos que dizia servirem antes aos conservadores. Não é, como se nota, que ela fosse a favor da liberdade; apenas era contra a censura aplicada pelos adversários. Quando aplicada pelos aliados, tudo bem!
É um escárnio. Submete-se Monteiro Lobato a padrões, debates e proselitismos que estão postos hoje em dia, mas que não estavam dados então. É claro que não se descarta a possibilidade de que o professor possa trabalhar em sala de aula a figura de Tia Nastácia  — que, atenção!, é um dado da formação história, familiar, social e moral brasileira. Que seja, pois, tema de aula se for o caso. Proibir a obra ou meter nela uma tarja de “racista” é uma estupidez sem par.
Deverá agora “O Mercador de Veneza” vir com a advertência: “Cuidado! Obra anti-semita, só recomendável para quem está devidamente instruído sobre este assunto”. Ou, do mesmo Shakespeare, sobrepor à capa de “Othelo” algo assim: “Cuidado! Sugere-se que temperamento emocional e desequilibrado do protagonista pode estar relacionado à sua origem racial e mesmo à cor de sua pele”? Vai-se proibir Alexandre Herculano, em Portugal ou em qualquer lugar, ou apensar um tratado a seus livros advertindo para a possível manifestação de preconceito contra a fé islâmica? É o fundo do poço moral, a que não se chega sem uma dose cavalar de ignorância, preconceito às avessas, estupidez e, obviamente, patrulha ideológica.
Já contei aqui de um amigo articulista que foi “molestado” — sim, molestado moralmente! — porque, num artigo sobre economia, escreveu que via “nuvens negras” no horizonte. Quis saber o militante? “Nuvens negras? Como sinal de coisa ruim? Não pode! É racismo”. Desde a “Ilíada” pelo menos, de Homero,  nuvens negras estão associadas a maus presságios, são prenúncios de acontecimentos aziagos — e os negros nem sequer haviam ainda entrado na história dita ocidental. Há nuvens negras em Machado de Assis, um autor… negro! Aliás, vejam vocês, esse autor também espelha em sua obra as relações sociais de seu tempo. Sem contar que, antes das tempestades, o céu costuma, efetivamente, enegrecer, não é?
Querem mandar Monteiro Lobato de volta para a cadeia, agora uma cadeia moral. Vou ver se encontro um pequeno ensaio que escrevi sobre sua obra, no tempo em que eu ainda escrevia sobre cultura — em vez de combater a “incultura” da política brasileira. Que o tal rapaz faça a sua “denúncia”, vá lá. Que um parecer bucéfalo seja aprovado por unanimidade no Ministério da Educação, aí já estamos no terreno da paranóia e da mistificação.
PS - E não me espanta que tal cretinismo tenha acontecido na gestão do ministro Fernando Haddad, este homem notoriamente incompetente, competentíssimo na arte de fingir competência. Em breve, Monteiro Lobato só poderá ser recomendando depois da leitura do livro “Emília, a boca de trapo, pede desculpas por todas as ofensas a Tia Nastácia”.
Por Reinaldo Azevedo

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Mistério

  Seus olhos eram como duas grandes e belas jabuticabas: pretos, profundos. Davam a impressão de terem vida própria. Era loira. A primeira coisa que se percebia nela eram os cabelos. Deslumbrantes. Ela se dizia feliz. Até que ele apareceu.

  Ele apareceu fulminantemente na vida da garota loira. Os dois começaram a conversar, começaram a sair e a se conhecer melhor. Em poucos dias já namoravam. Uns diziam ser paixão; outros, bruxaria. Na verdade, um mistério.

  Até hoje ninguém entende direito o que aconteceu com a loira e com ele. Em poucas semanas, já moravam juntos. Depois disso, começaram a sair menos. Quase não eram mais vistos pela população.

  Até que, um dia, não houve mais relatos dos dois naquela cidade. Todos se perguntavam sobre o que acontecera com eles. Certo dia, ouvi que ele a tinha matado. Uma possibilidade, mas não creio que isso tenha ocorrido.

  O casal se amava. Pelo menos, ele a amava. Não havia certeza sobre os sentimentos dela. Na verdade, ela o matou. E fugiu. Não aguentava de ciúmes. Como posso saber de tudo isso? Eu vivi. É difícil explicar. Não é fácil escrever sob uma lápide.

I Will Be Here For You

When you feel the sunlight
Fade into the cold night

Don't know where to turn
I don't know where to turn

And all the dreams you're dreaming
Seem to lose their meaning

Let me in your world
Baby, let me in your world

All you need is someone you can hold
Don't be sad, you're not alone

I will be here for you
Somewhere in the night
I'll shine a light for you
Somewhere in the night
I'll be standing by
I will be here for you

In this world of strangers
Of cold and friendly faces

Someone you can trust
Oh there's someone you can trust

I will be your shelter
I'll give you my shoulder

Just reach out for my love
Reach out for my love

Call my name and my heart will hear
I will be there, there's nothing to fear

Michael W. Smith

sábado, 23 de outubro de 2010

Carta de Amor

Eu realmente não consigo parar de pensar em ti...

A cada instante, a lembrança de tua face invade a minha memória como o mais violento tufão e como a mais suave brisa.

Não há um só elemento de minha amarga vida que não traga à minha lembrança a imagem da perfeição que tu és.

É impossível descrever a ânsia do meu ser pela tua presença; não sei como exprimir o anseio dos meus lábios têm para experimentar o doce sabor de tua boca; não tenho palavras para mensurar a ansiedade de meu corpo por um abraço teu.

És tão linda como a mais bela das rosas; tão graciosa como a dança dos planetas em torno do sol; tão suave como a mais doce melodia já tocada por mãos humanas.

Teu sorriso me cativa, teu olhar me inspira. Penso em ti a cada momento de minha triste existência (triste porque não te tenho; se tivesse, eu seria a mais feliz das criaturas humanas).

Suspiro por ti, minha musa. Satisfaça minha ânsia: caia em meus braços, toque meus lábios com os teus, seja minha dama. O que sinto por ti, não posso expressar.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

"Banalidades"

A 10 dias da eleição, seria natural que esse blog falasse sobre política... Mas acho que existem alguns outros belos assuntos que mereçam a nossa atenção tanto quanto a política... Não quero falar sobre uma eleição marcada pela sujeira, pela baixaria e pelo golpe baixo... Falemos de coisas mais bonitas...

- Hoje (dia 20 de outubro) a lua estava maravilhosa
- O Palmeiras ganhou do Universitario de Sucre por 3x1 e se classificou na Copa Sul-Americana
- Sou o melhor amigo da minha ex-namorada e vice versa
- Meu melhor amigo trabalha como atendente do SAMU... As histórias dele sempre me fazem rir...
- Fiz a inscrição pro vestibular da Toledo; a prova será no sábado
- O Resgate vai tocar na El Shaday, em Araçatuba, no dia 13 de novembro; sempre quis ver um show deles...
- Estou lendo a Bíblia inteira pela primeira vez... Hoje, terminei Isaías... Em 17 dias, termino tudo...
- Preciso ir a um dermatologista... Minhas espinhas estão me incomodando...
- Preciso cortar o cabelo... Ele tá muito grande...
- Deus é maravilhoso...
- Minha avó completou 81 anos de vida essa semana...
- Estou feliz, apesar de não ter muitos motivos pra isso...
- Estou pensando em palavras doces como "amor", "paixão" e "beleza", mas não sei como usá-las neste texto...

Obrigado pela atenção

Thiago Grossi

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Cansei!

Cansei!
Cansei dessa vida! Cansei desse país! Cansei dessa cidade! Cansei da minha família!
Cansei de tentar ser quem eu não sou! Cansei de quem eu realmente sou!
Cansei de ter que agradar os outros! Cansei de ter que ter opiniões! Cansei de ninguém ouvi-las!

Cansei!
Cansei do PT! Cansei do PSDB! Cansei do PV!
Cansei do Capitalismo! Cansei do Comunismo! Cansei da Anarquia!
Cansei do meu quarto! Cansei da minha casa!

Cansei!
Cansei de peruas! Cansei de patricinhas! Cansei de roqueiros! Cansei dos emos! Cansei dos punks!
Cansei dos pagodeiros! Cansei do sertanejo! Cansei da música clássica!
Cansei de ter que aprender! Cansei de não aprender!

Cansei!
Cansei de saber! Cansei de não saber!
Cansei da Globo! Cansei da Band! Cansei do SBT! Cansei da Record!
Cansei da internet! Cansei das músicas! Cansei do jornal!

Cansei!
Cansei do Bentinho! Cansei da Capitu! Cansei do Brás Cubas! Cansei da Aurélia!
Cansei da Canção do Exílio! Cansei da pedra do meio do caminho!
Cansei do Pedro Bala! Cansei do Fabiano! Cansei do Cobrador!

Cansei!
Cansei de ser gauche! Cansei de ser igual!
Cansei de ser loiro! Cansei de ser magro!
Cansei de ser alto! Cansei de ser baixo!
Cansei de ser...

Paradigmas (in)quebráveis

Nessa eleição existem alguns paradigmas que precisam ser quebrados:

Primeiro: Marina Silva, apesar de evangélica, NÃO vai ser a presidente (apesar de presidenta estar certo, eu acho feio; logo, vocês não verão esse termo usado nesse blog) DOS evangélicos, apenas. Se eleita, ela não vai fazer apenas o que os evangélicos acham que é certo. Se o aborto for legalizado pelo Congresso, ela não vai vetar; já disse isso antes da campanha. Logo, a campanha que alguns "cristãos" fazem chamando Dilma Roussef e José Serra de candidatos "pró-aborto" é, no mínimo, irresponsável.

Segundo: Paulo Skaf, apesar de ser rico e de ser o candidato dos ricos, também não vai governar para os ricos se for eleito. O SESI e o SENAI beneficiam GRANDE parte da população mais pobre. Também é irresponsável e inadmissível campanha contra Skaf por esse motivo.

Terceiro: José Serra não é o candidato das privatizações. Apesar de ter sido nos governos do partido dele que as principais privatizações ocorreram, não significa que outras ocorrerão.

Quarto: Quem disse que as privatizações foram ruins? Se foram, por que todas as empresas privatizadas cresceram absurdamente?

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O Sino de Ouro


Contaram-me que, no fundo do sertão de Goiás, numa localidade de cujo nome não estou certo, mas acho que é Porangatu, que fica perto do rio de Ouro e da serra de Santa Luzia, ao sul da Serra Azul - mas também pode ser Uruaçu, junto do rio das almas e da serra do Passa Três (minha memória é traiçoeira e fraca; eu esqueço os nomes das vilas e a fisionomia dos irmãos, esqueço os mandamentos e as cartas e até a amada que amei com paixão) -, mas me contaram que em Goiás, nessa povoação de poucas almas, as casas são pobres e os homens pobres, e muitos são parados e doentes indolentes, e mesmo a igreja é pequena, me contaram que ali tem - coisa bela e espantosa - um grande sino de ouro.

Lembrança de antigo esplendor, gesto de gratidão, dádiva ao Senhor de um grã-senhor - nem Chartres, nem Colônia, nem S. Pedro ou Ruão, nenhuma catedral imensa com seus enormes carrilhões tem nada capaz de um som tão lindo e puro como esse sino de ouro, de ouro catado e fundido na própria terra goiana nos tempos de antigamente.É apenas um sino, mas é de ouro. De tarde seu som vai voando em ondas mansas sobre as matas e os cerrados, e as veredas de buritis, e a melancolia do chapadão, e chega ao distante e deserto carrascal, e avança em ondas mansas sobre os campos imensos, o som do sino de ouro. E a cada um daqueles homens pobres ele dá cada dia sua ração de alegria. Eles sabem que de todos os ruídos e sons que fogem do mundo em procura de Deus - gemidos, gritos, blasfêmias, batuques, sinos, orações, e o murmúrio temeroso e agônico das grandes cidades que esperam a explosão atômica e no seu próprio ventre negro parecem conter o germe de todas as explosões - eles sabem que Deus, com especial delícia e alegria, ouve o som alegre do sino de ouro perdido no fundo do sertão. E então é como se cada homem, o mais mesquinho e triste, tivesse dentro da alma um pequeno sino de ouro.



Quando vem o forasteiro de olhar aceso de ambição, e propõe negócios, fala em estradas, bancos, dinheiro, obras, progresso, corrupção - dizem que esses goianos olham o forasteiro com um olhar lento e indefinível sorriso e guardam um modesto silêncio. O forasteiro de voz alta e fácil não compreende; fica, diante daquele silêncio, sem saber que o goiano está quieto, ouvindo bater dentro de si, com um som de extrema pureza e alegria, seu particular sino de ouro. E o forasteiro parte, e a povoação continua pequena, humilde e mansa, mas louvando a Deus com sino de ouro. Ouro que não serve para perverter, nem o homem nem a mulher, mas para louvar a Deus.

E se Deus não existe, não faz mal. O ouro do sino de ouro é neste mundo o único ouro de alma pura, o ouro no ar, o ouro da alegria. Não sei se isso acontece em Porangatu, Uruaçu ou outra cidade do sertão. Mas quem me contou foi um homem velho que esteve lá; contou dizendo: "eles têm um sino de ouro e acham que vivem disso, não se importam com mais nada, nem querem mais trabalhar; fazem apenas o essencial para comer e continuar a viver, pois acham maravilhoso ter um sino de ouro".

O homem velho me contou isso com espanto e desprezo. Mas eu contei a uma criança e nos seus olhos se lia seu pensamento: que a coisa mais bonita do mundo deve ser ouvir um sino de ouro. Com certeza é esta mesmo a opinião de Deus, pois ainda que Deus não exista, ele só pode ter a mesma opinião de uma criança. Pois cada um de nós quando criança tem dentro seu sino de ouro que depois, por nossa culpa e miséria e pecado e corrupção, vai virando ferro e chumbo, vai virando pedra e terra, e lama e podridão.



Rubem Braga

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Ficha Limpa

Hoje é a votação do Ficha Limpa no STF... Ainda não saiu o resultado, mas qualquer que seja o veredicto final, não será uma anormalidade.
A aprovação e a validade do referido projeto já para as eleições desse ano são o "certo" e o apelo popular, mas, por outro lado, todas as leis eleitorais têm que esperar um certo tempo para entrar em vigor e, no rigor jurídico da Constituição, podemos encontrar uma inconstitucionalidade formal no projeto por ele ter sido alterado no Senado e não ter sido mandado de volta pra Câmara para aprovação do novo texto.
É absurdo o Senado não ter mandado o texto para nova apreciação na Câmara; um erro primário que não pode acontecer com uma lei tão importante. Por esse ponto de vista, o projeto deveria ser declarado inconstitucional.
Por outro lado, o bom senso manda que o projeto seja aprovado. Existe um clamor entre a população pela aprovação do projeto, e isso não pode ser ignorado pela corte suprema do país. É absurdo pensar que, em um país como o Brasil, políticos já condenados e que enfrentam processos por corrupção possam ser eleitos. (Convenhamos: também é absurdo pensar que políticos condenados precisem de LEI para NÃO SEREM VOTADOS; isso deveria ser natural entre a população).
Enfim... Tomara que permaneça o bom senso... Escutem a população, ministros.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Lula é um fenômeno religioso

Lula não é um político - é um fenômeno religioso. De fé. Como as igrejas que caem, matam os fiéis e os que sobram continuam acreditando. Com um povo de analfabetos manipuláveis, Lula está criando uma igreja para o PT dirigir, emparedando instituições democráticas e poderes moderadores.
Os fatos são desmontados, os escândalos desidratados para caber nos interesses políticos da igreja lulista e seus coroinhas. Lula nos roubou o assunto. Vejam os jornais; todos os assuntos são dele, tudo converge para a verdade oficial do poder. Lula muda os fatos em ficção. Só nos resta a humilhante esperança de que a democracia prevaleça.
Depois do derretimento do PSDB, o destino do País vai ser a maçaroca informe do PMDB agarrada aos soviéticos do PT, nossa direita contemporânea. Os comentaristas ficam desorientados diante do nada que os petistas criaram com o apoio do povo analfabeto. Os conceitos críticos, como "razão, democracia, respeito à lei, ética", ficaram ridículos, insuficientes raciocínios diante do cinismo impune.
Como analisar com a Razão essa insânia oficial? Como analisar o caso Erenice, por exemplo, com todas as provas na cara, com o Lula e seus áulicos dizendo que são mentiras inventadas pela mídia? Temos de criar novos instrumentos críticos para entender esta farsa. Novos termos. Estamos vendo o início de um "chavismo light", cordial, para que a "massa atrasada" seja comandada pela "massa adiantada" (Dilma et PT). Os termos têm de ser mudados. Não há mais "propina"; agora o nome é "taxa de sucesso". A roubalheira se autonomeia "revolucionária" - assalto à coisa pública em nome do povo. O que se chamava "vítima" agora se chama "réu". Os escândalos agora são de governos inteiros roubando em cascata, como em Brasília, Rondônia e Amapá - são "girândolas de crimes". Os criminosos são culpados, mas sabem tramar a inocência. O "não" agora quer dizer "sim".
Antigamente, se mentia com bons álibis; hoje, as tramoias e as patranhas são deslavadas; não há mais respeito nem pela mentira. Está em andamento uma "revolução dentro da corrupção", invadindo o Estado em nossa cara, com o fito de nos acostumar ao horror. Gramsci foi transformado em chefe de quadrilha.
Nunca antes nossos vícios ficaram tão explícitos, nunca aprendemos tanto de cabeça para baixo. Já sabemos que a corrupção no País não é um "desvio" da norma, não é um pecado ou crime; é a norma mesmo, entranhada nos códigos e nas almas. Nosso único consolo: estamos aprendemos muito sobre a dura verdade nacional neste rio sem foz, onde as fezes se acumulam sem escoamento. Por exemplo: ganhamos mais cultura política com a visão da figura da Erenice, a burocrata felliniana, a "mãe coragem" com seus filhos lobistas, com o corpinho barbudo do Tuminha (lembram?), com o "make-over" da clone Dilma (que ama a ex-Erenice, seu braço direito há 15 anos), com o silêncio eufórico dos Sarneys, do Renan, do Jucá... Que delícia, que doutorado sobre nós mesmos!
Ao menos, estamos mais alertas sobre a técnica do desgoverno corrupto que faz pontes para o nada, viadutos banguelas, estradas leprosas, hospitais cancerosos, esgotos à flor da pele, tudo proclamado como plano de aceleração do crescimento popular.
Nossa crise endêmica está em cima da mesa de dissecação, aberta ao meio como uma galinha. Meu Deus, que prodigiosa fartura de novidades imundas, mas fecundas como um adubo sagrado, belas como nossas matas, cachoeiras e flores.
Os canalhas são mais didáticos que os honestos. Temos assistido a um show de verdades mentirosas no chorrilho de negaças, de cínicos sorrisos e lágrimas de crocodilo. Como é educativo vermos as falsas ostentações de pureza para encobrir a impudicícia, as mãos grandes nas cumbucas e os sombrios desejos das almas de rapina. Que emocionante este sarapatel entre o público e o privado: os súbitos aumentos de patrimônio, filhinhos ladrões, ditadura dos suplentes, cheques podres, piscinas em forma de vaginas, despachos de galinhas mortas na encruzilhada, o uísque caindo mal no Piantela, as flatulências fétidas no Senado, as negaças diante da evidência de crime, os gemidos proclamando "honradez" e "patriotismo".
Talvez esta vergonha seja boa para nos despertar da letargia de 400 anos. Através deste escracho, pode ser que entendamos a beleza do que poderíamos ser!
Já se nos entranhou na cabeça, confusamente ainda, que enquanto houver 20 mil cargos de confiança no País, haverá canalhas, enquanto houver estatais com caixa-preta, haverá canalhas, enquanto houver subsídios a fundo perdido, haverá canalhas. Com esse código penal, nunca haverá progresso.
Já sabemos que mais de R$ 5 bilhões por ano são pilhados das escolas, hospitais, estradas, sem saneamento, com o Lula brilhando na TV, xingando a mídia e com todos os mensaleiros, sanguessugas e aloprados felizes em seus empregos e dentro do ex-partido dos trabalhadores. E é espantoso que este óbvio fenômeno político, caudilhista, subperonista, patrimonialista, aí, na cara da gente, seja ignorado por quase toda a intelligentsia do País, que antes vivia escrevendo manifestos abstratos e agora se cala diante deste perigo concreto que nos ronda. No Brasil, a palavra "esquerda" ainda é o ópio dos intelectuais.
A única oposição que teremos é o da imprensa livre, que será o inimigo principal dos soviéticos ascendentes. O Brasil está evoluindo em marcha à ré! Só nos resta a praga: malditos sejais, ó mentirosos e embusteiros! Que a peste negra vos cubra de feridas, que vossas línguas mentirosas se transformem em cobras peçonhentas que se enrosquem em vossos pescoços, e vos devorem a alma.
Os soviéticos que sobem já avisaram que revistas e jornais são o inimigo deles.
Por isso, "si vis pacem, para bellum", colegas jornalistas. Se quisermos a paz, preparemo-nos para a guerra. 

Arnaldo Jabor em "O Estado de S. Paulo"

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Debate pra governador... Análise: absurdos e propostas

Na noite da última segunda-feira, a TV Record promoveu um debate entre os candidatos ao governo... No debate paulista, aconteceram alguns absurdos que simplesmente não podem ficar sem comentários... Primeiramente, é absurdo acontecerem jogos de compadres como aconteceram ontem entre Alckmin e Feldmann, Mercadante e Russomano (como já havia acontecido anteriormente em debate da TV Bandeirantes) e Mercadante e Skaf...Os candidatos têm que debater ideias para o estado, não têm que formar alianças esdrúxulas como têm formado...
Ridícula foi também a tentativa do candidato do PSOL, Paulo Búfalo, de desmerecer a candidatura de Paulo Skaf por este ser um empresário rico e pertencer ao Partido SOCIALISTA Brasileiro... É realmente estranho isso, mas o candidato do PSOL não tem o direito de desmerecer o sucesso de um grande empresário como Skaf, que, diga-se de passagem, não tem como se apresentar como o "candidato de todos", como tentou se apresentar... Skaf é rico e é o candidato dos ricos, mas o candidato do PSOL não tem o direito de atacá-lo por isso...
Paulo Búfalo, aliás, foi a grande estrela do debate, provocando todos os outros candidatos e empurrando Mercadante à parede quando disse que o petista ajudou a confirmar o veto ao aumento do financiamento público da educação... Diante da negativa do senador, o candidato do PSOL foi, no mínimo, perspicaz ao lembrar que Mercadante quer participação nas coisas boas do governo, mas se afasta da imagem de governista quando as coisas ruins são lembradas...
Aliás, essa postura não é exclusiva do petista... O tucano Alckmin e o malufista Russomano tiveram atitudes idênticas à de Mercadante; Alckmin não se dignou a falar sobre pedágio e Russomano fugiu das perguntas sobre o Maluf... Interessante, no mínimo...
Mas o que importa, realmente, são as propostas... Alckmin só diz que o que é bom tem que continuar, mas não mostra o que é bom e nem como pretende continuar. Mercadante e Russomano só sabem falar sobre pedágios. Skaf fala muito sobre redução de impostos, mas não explica como vai reduzi-los sem cortar gastos. Paulo Búfalo, como todos do PSOL, é contra tudo, acha que tudo tem que ser jogado fora e começado do zero, mas também existem coisas boas em São Paulo. Feldmann, apesar de bater muito na tecla de preservação ambiental e deixar algumas questões pontuais como a segurança pública de fora, é o candidato com o melhor plano de governo; discorre sobre educação, transporte público de qualidade, segurança alimentar e comércio exterior, elementos que ou são secundários ou tratados com mesmice no plano de outros candidatos, mas que, na verdade, são de vital importância.
É isso aí, amigos... Analisem bem as propostas dos candidatos... É importante...

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Affair

          Não era nem dez horas da noite quando eles chegaram. A casa estava toda remexida. Aquilo nunca havia acontecido antes. Assustaram-se e começaram a vasculhar todos os cantos da casa. Nada estava faltando. Era um grande mistério. O que havia ocorrido naquela noite?
Decidiram investigar. Meia hora depois das dez, chamaram o vizinho da direita e perguntaram se ele havia notado alguma atividade estranha no local. Disse que não. Havia saído e acabara de chegar. O vizinho da esquerda adormecera e não percebera nada. A casa logo à frente estava vazia.
Uma hora depois das dez, resolveram deixar de lado e acharam melhor ir para a cama. Tiveram uma noite sublime e tensa, suave e angustiante. Acordaram seis horas depois das dez, com um barulho no andar de baixo. Desceram para ver o que se passava. Um homem de estatura mediana, com uma arma na mão e uma máscara no rosto apontava para os dois e mandava que se vestissem.
Meia hora depois ele explicava o que queria com eles e dizia que não tinha a intenção de roubá-los. Desejava apenas divertir-se. Gostava de ver o desespero das pessoas. Disse para eles se acalmarem e não cometerem nenhum exagero, sob pena de morrerem. E exigiu que fizessem toda a sua vontade. Foram obrigados a concordar.
O primeiro desejo do maníaco foi ver um beijo dos dois. Beijaram um beijo sem graça, sem açúcar, sem tempero nenhum. O bandido exigiu que se beijassem de novo. Desta vez, com mais vontade. Exigiu ver amassos, abraços, mãos, línguas, tudo. Depois disso, beijaram-se com vontade.
Quando isso aconteceu, já havia passado sete horas das dez. Depois de ver os dois se beijando, o bandido exigiu um beijo da mulher. Ela recusou. Ele tirou a máscara. Ela deu um berro. Era seu marido. Ela havia sido pega no flagra. Xingamentos foram ouvidos naquela noite. Cinco tiros e muita confusão depois, os vizinhos chamaram os policiais.
Os policiais entraram na casa e se depararam com três corpos estirados no chão e uma arma na mão da mulher. A polícia investigou e chegou à conclusão de que a mulher havia matado os dois e dado fim à própria vida. Mas uma coisa passou despercebida. Os policiais não perceberam que o terceiro corpo não era do amante.