sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O Último Post

Como deveria ser o último post do ano? Passei o dia todo pensando nisso. Pensei em fazer uma retrospectiva, mas não quero re-lembrar os acontecimentos de um ano tão horrível como 2010 foi. Pensei em escrever sobre o caso Cesare Battisti, mas não quero terminar o ano escrevendo sobre política. Pensei em escrever sobre futebol, mas esse não tem sido um tema agradável para os palmeirenses. 
O último post. O poeta quereria que seu último poema fose puro, ardente e terno. O cronista queria sua última crônica pura como o sorriso de um pai realizando o sonho da filha. Como deveria ser o último post de um blogueiro? 
Para responder isso, temos que pensar em algumas coisas. Qual é o objetivo de um blogueiro? Ou melhor, qual é o objetivo DESTE blogueiro? Por que este blog existe? Qual é o sentido da atividade de "bloguear"? Por que eu escrevo?
Será que é possível responder essas perguntas? Eu escrevo porque este é o sentido da minha vida. Eu nasci pra escrever. Não consigo mais imaginar minha vida sem escrever. Mas por que eu escolhi o blog para realizar isso? Poderia tentar escrever num jornal, ou tentar escrever um livro. Por que um blog?
Não sei. Mas eu sinto como se tivesse recebido uma missão. É assim que vejo este blog. O blog serve pra eu escrever minhas ideias loucas, minhas histórias, meus sentimentos, minhas opiniões. O blog é como um espelho do meu cérebro: frenético, hiperativo, bagunçado.
Então, é assim que eu quereria meu último post: com um ritmo acelerado, frenético; com a marca das minhas opiniões; que a pessoa lesse e, sem ninguém contar-lhe, que ela soubesse que é um texto meu. Assim eu quereria meu último post: meu.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Amor à Platão

  Tinha um olhar lindo. Seus olhos transmitiam pureza. Quando a vi, não conseguia parar de pensar em seu olhar. Aquilo ficou na minha cabeça por dias. Fazia de tudo para encontrá-la, mas parecia que o destino não queria isso. Procurei por ela na cidade toda. Andava e andava procurando-a.
  Não conseguia parar de pensar naquele olhar. Passava horas seguidas lembrando, maravilhado com a beleza daqueles lindos e serenos olhos. Como aquele olhar me transmitia tranquilidade. Como ela era linda. Será que encontraria palavras em nossa língua para descrever aquele olhar? Seriam olhos de ressaca como os machadianos olhos de Capitu? Não. Aquele olhar me transmitia certeza, não a dúvida. O mais interessante é que não consigo me lembrar da cor dos olhos dela. Apenas lembro a serenidade que eles me passavam.
  Lembro-me, também, da voz dela. Soava como a mais doce melodia já executada por mãos humanas. Suas palavras eram doces. Aliás, se existe uma palavra para descrevê-la é doçura. Como ela era doce. Não conseguia tirá-la de minha mente. Tudo me lembrava ela. Ela era linda. Precisava encontrá-la.
  A cada instante que passava, tudo piorava. A visão de seu rosto vinha de encontro ao meu pensamento sempre. Para mim, ela era a mais bela criatura de todo o mundo. Lembrava de seu perfume. Lembrava de sua voz, de seu olhar. Parecia que tudo o que havia nela era perfeito. Vê-la era uma necessidade.
   A insanidade começava a tomar conta de mim. Tudo era ela. As nuvens no céu, a música que eu ouvia, as pessoas que via na rua. O meu mundo era feito daquele olhar tão sereno. No meu coração, ela era perfeita. Estava apaixonado. Não. Mais do que isso. Estava obcecado. Precisava dela.
  Tinha visto aquela perfeição apenas umas poucas vezes. Mas precisava vê-la. Não era necessário beijá-la, ou mesmo tocá-la. A simples visão de sua face me satisfaria. Mais uma vez, saí na vã esperança de encontrá-la. Vagava sem destino, torcendo para que ela estivesse ali quando eu cruzasse a esquina. 
  Tinha perdido a esperança. Então, cruzei a esquina. Meu coração quase saiu pela boca. Era ela. A mais perfeita visão que um ser humano já teve. Estava linda. Era linda. Cumprimentei-a com um abraço e segui meu caminho, satisfeito, por vê-la. Era o que eu precisava.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Uma Análise Sobre os Reis Magos

Dos elementos presentes no nascimento de Jesus, o que mais me intriga são os Reis Magos. Tradicionalmente, considera-se que eram em número de três. Entretanto, a Bíblia não diz, em nenhum momento, quantos Reis estavam ali. Consideremos outros aspectos.

-> É convenção colocarem, entre os Magos, um negro, é politicamente correto. Entretanto, a Bíblia diz que os Reis Magos vieram do Oriente. Considerando a posição geográfica de Belém, é impossível que algum dos sábios ali presente tenha vindo da África. Ou seja, provavelmente, não havia um Rei Mago negro naquela ocasião.

-> Em momento algum a Bíblia relata o número de sábios que foram ao encontro do recém-nascido salvador da   Terra. Então, por que convencionou-se o número três para contá-los? Porque eles levaram três presentes ao menino. A saber, esses presentes são ouro, incenso e mirra.
- Ouro, para o Rei da Terra.
- Incenso, para o Sacerdote que nos levaria à presença de Deus.
- E mirra, uma especiaria rara, para o Cordeiro que seria imolado por nossos pecados.

-> Segundo as informações que a Bíblia nos passa, chegamos à conclusão de que os sábios não chegaram a Jesus no momento de seu nascimento. Se eles passaram por Herodes antes de chegar ao destino, e, na volta, não passaram e Herodes mandou com que fossem mortas as crianças com dois anos de idade, ou menos, podemos afirmar, não com precisão, que eles chegaram e viram um Jesus com pouco menos de um ano de idade, e não recém-nascido, como normalmente é representado.

Levando em conta essas considerações, gostaria de fornecer um novo retrato para a cena dos Reis Magos: (parte disso é apenas fruto da minha imaginação)

-> 4 Reis Magos: um ariano (persa), um indiano (por causa da mirra; a Índia sempre foi rica em especiarias), um oriental do Leste (talvez um chinês) e um árabe.

-> Uma casa, em Belém: se Jesus já tinha um ano de idade quando os sábios chegaram, eles provavelmente não o encontraram no estábulo que presenciou o Nascimento. É provável que a Sagrada Família já estivesse morando em outra casa

-> José

-> Maria, já refeita do parto, amamentando o Salvador.

-> Jesus com cerca de um ano de idade

-> 0 pastores: os pastores citados pela Bíblia viram Jesus recém-nascido. Se os Reis Magos chegaram a Belém quando Jesus já tinha cerca de um ano, provavelmente os pastores já teriam ido embora.

Os Reis Magos sabiam quem Jesus era. Eles provavelmente se jogaram de joelhos à sua frente, com o rosto em Terra, adorando o Salvador.
Eu imagino uma Maria atônita com a presença, os presentes e as atitudes dos Reis Magos. Imagino um choque entre as culturas dos estrangeiros e de José. E imagino os olhos dos sábios brilhando ao contemplarem o Rei de todo o Universo.
Essa é a minha visão da chegada dos Reis Magos à presença de Jesus.

(se você tiver outra ideia, poste como comentário)

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Sonhos

Quando Martin Luther King pronunciou a célebre frase “eu tenho um sonho”, talvez ele se referisse apenas aos problemas raciais. Mas todos percebem que a frase pode se aplicar às mais diversas áreas.
   Se referindo à igualdade, Luther King estaria, automaticamente, se referindo à miséria que a desigualdade traz. E Martin disse que sonhava com um mundo de igualdade, sem miséria.
    Agora, pode surgir a pergunta: seria possível um mundo com igualdade e sem miséria, ou esta hipótese estaria, apenas, no sonho do pastor americano?
    A resposta é a frase de Machado de Assis, de que “defeitos não fazem mal se há vontade e poder para corrigi-los”. Se a miséria é um defeito, então, com vontade, há como mudar esse quadro.
    Se o sonho é realmente real, podemos ter um mundo melhor e mais justo, com igualdade e sem miséria, exatamente como sonharam Martin Luther King, Mahatma Gandhi, Jesus de Nazaré e tantos outros incontáveis e anônimos sonhadores que a História não nos revelou a identidade.
    Mas, quem pode mudar esse quadro? E quando esse quadro será mudado? O mundo apenas será um lugar melhor, sem desigualdade e sem miséria quando cada um de nós fizer a nossa parte, com consciência e força de vontade para mudar esse quadro.
    Enquanto isso, estaremos fadados a viver em um mundo desigual, injusto e miserável, apenas com um sonho que um pastor negro dos Estados Unidos nos deixou como herança quando um fanático da Ku-klux-klan tirou sua vida com um tiro. Enquanto não mudarmos as estruturas, estaremos destinados a repetir a frase de Luther King, sem expectativa de um mundo melhor. Durma, sonhe, e acorde. Talvez, quando acordar, esteja melhor.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Natal

E o Natal bate às portas...

Presentes?

Papai-Noel?

Jesus?

Comércio?

Dinheiro?

Decoração?

Árvore?

Lutero?

Maria?

José?

Festa pagã?

Mundano?

Amor?

Paz?

Alegria?

Manjedoura?

(Três?) Reis Magos?

Júpiter?

Constantino?

Deus?

Messias?

Salvador?

Afinal de contas, qual é o sentido do Natal?

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Três Desejos

  Uma vez me perguntaram o que eu desejaria se encontrasse uma lâmpada mágica e tivesse direito a três desejos. Não soube o que responder e pedi um tempo pra pensar. Hoje eu descobri o que pediria, e cheguei à conclusão de que isso mereceria um texto. Lá vão os três desejos.
  Em primeiro lugar, pediria que o sofrimento de todas as pessoas do mundo acabasse. Nenhum ser humano merece sofrer. Eu gostaria que toda fome do mundo acabasse. Gostaria que o ódio se extinguisse. Gostaria que não houvesse mais assassinatos e torturas. 
  Em segundo lugar, pediria que todas as pessoas se amassem. Mas que elas se amassem completamente. Que todas as pessoas estivessem dispostas a dar a vida pelas outras. Um amor completo e sem fronteiras. O amor cristão, sacrificial e perfeito.
  Em terceiro lugar, pediria que eu simplesmente desaparecesse. 

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Countdown

Hide, for the countdown has begun (Narnia)

São 04h00 do dia 14 de dezembro de 2010...
O tédio e a solidão me consomem...
Sinto um vazio dentro de mim...
Como preenchê-lo?
Sinto algo que não sei explicar...
Como pode ser?
Tento entender a mim mesmo.
Por que parece tão difícil?
Se nem eu mesmo me entendo,
Como os outros poderiam?

A solidão me atormenta.
Quase sempre cercado de pessoas.
Sempre sem ninguém ao meu lado.
Sinto falta de alguma coisa.
De quê? Não sei.
Sei que preciso de alguém.
Uma namorada?
Um amigo?
Talvez.

Pensamentos começam a bombardear meu cérebro.
O que é este texto?
Uma poesia?
Não quero pensar nisso.
Cada pensamento me atormenta mais.
Não quero mais pensar.
Pensar faz mal...
Meu cérebro não para...

Cada atitude me incomoda.
O Tédio zomba de mim.
Como evitar?
Sinto uma avalanche de sentimentos
Desabando sobre meu coração...
Pior do que pensar é sentir...
Preciso parar com esses vícios.

Sozinho no quarto,
Ideias me atormentam.
Vejo uma arma.
Ideias me atormentam.
Penso em atitudes controversas.
A polêmica parece fazer parte do momento.

O suicídio parece uma boa alternativa.
Rejeito instantaneamente a possibilidade.
O auto-assassinato é um ato egoísta.
Penso nos outros.
Guardo a arma.

Penso na vida.
Vida? Que vida?
Isso é vida?
Pego novamente a arma.

O suicídio novamente
Parece uma boa alternativa.
Reluto em fazê-lo.

Penso mais um instante.
Engatilho. Atiro.

Morro.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A Flor e a Náusea


Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cizenta.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a  pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que triste são as coisas, consideradas em ênfase.

Vomitar este tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam pra casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens macias avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
Carlos Drummond de Andrade

sábado, 4 de dezembro de 2010

Senhor de Tudo

Eu não sei
O que seria de mim
Se não fosse o teu amor
Eu não vou
Posar de bom
Tudo o que tem de bom em mim
É a tua porção em mim

Senhor, Senhor,
Senhor da minha vida,
Dos meus planos,
De tudo.

Posso te ver
Num céu com sol
Ou em nuvens que vêm com chuva
Posso te sentir
Em plantas e pássaros,
Em todas as coisas
Teu amor

Senhor, Senhor,
Senhor da minha vida,
Do meu mundo,
De tudo.

Das asas da borboleta
Aos icebergs glaciais,
Das quedas de cometas
Aos seres celestiais,
A glória é tua,
É teu o reino da paz

Danni Distler

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Psicologia de Um Vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra.

(Augusto dos Anjos)

Acho que encontrei algo que define bem o momento que estou vivendo...
Obrigado, Augusto dos Anjos...

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Metalinguagem

  Sou um apaixonado pelas letras. Poucas coisas podem ter sua beleza comparada à da produção de palavras; as palavras são fascinantes, as frases são espetaculares, os versos são incríveis. Nada me satisfaz mais do que o ato de escrever. Amo a Prosa; amo a Poesia.
  Meu amor pela Prosa é consumado; eu procrio com a Prosa, tenho filhos com ela. Todos os dias eu anseio pela Prosa, busco sua presença mais do que tudo. A Prosa me completa; meu corpo e minha razão são completamente possuídos pela mãe dos meus filhos, que também possui grande parte do meu coração.
  Grande parte, porque existe uma outra: a  Poesia. Se minha relação com a Prosa é carnal, com a Poesia é platônica: sempre admirarei sua beleza, sempre flertarei com ela, sempre amá-la-ei. Porém, nunca poderei tê-la. A Poesia não é para mim.
  A Poesia sempre me atraiu e sempre vai me atrair com sorrisos de Diniz, com histórias de Camões, com declarações de Gonzaga, com suspiros de Dias, com protestos de Alves, com lágrimas de Azevedo, com deboches de Bandeira e com gritos de Pessoa. Mas isso não é e nunca será suficiente pra mim.
  Sempre precisarei das risadas de Machado, das constatações de Manning, das estórias de Lewis, da sensibilidade de Braga, da revolta de Yancey, dos cálculos de Malba, da fantasia de Tolkien e das palavras do Rosa. Mas seria isso suficiente pra saciar minha sede?
  Você poderia me sugerir que eu ficasse com ambas, que eu fosse uma espécie de '"Seu Flor" com duas esposas. Impossível. Não sou bígamo, como Vinícius e Drummond. Tenho uma essência monogâmica; sou fiel a uma só mulher nas Letras e na vida. Tenho que escolher uma.
  Eu sinto a Poesia; sinto seu ritmo, suas rimas, seus truques. Mas a Poesia é traiçoeira: nunca se sabe quando        ela vai insistir em não aparecer. Apesar de bela, é infiel; uma Capitu aos olhos do velho Bentinho. Já a Prosa não tem a mesma fineza da Poesia, mas é bela, mesmo assim. E a Prosa sempre está junto do amado, não tem truques, é a companheira perfeita.
  Por isso, estou disposto a embarcar em uma aventura para a vida toda: Prosa, você aceita se casar comigo?